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Drible a frustração quando a vida não sai conforme o planejado

Ao longo da vida, em especial no início da adolescência, é comum traçar vários planos e metas para o futuro: casar com uma determinada idade e ter um certo número de filhos, por exemplo. Ou não casar nem ter filhos e curtir uma vida de aventuras e viagens. E alcançar sucesso e reconhecimento na carreira antes de chegar aos 30, ganhar dinheiro suficiente para comprar a casa e o carro dos sonhos, ajudar pessoas queridas…

Só que nem sempre as situações e as circunstâncias da nossa trajetória colaboram para que as previsões aconteçam conforme o planejado. E aí chega um momento crucial –de crise, de repensar as próprias decisões ou simplesmente de avaliação– em que a sensação de derrota e a frustração se torna difícil de suportar. Pior: esse sentimento pode paralisar a concretização de novos desejos.

Buscar compreender a razão de nossas escolhas é um ótimo caminho para a libertação desses sentimentos limitantes. “Entender e aceitar que fizemos o que pudemos, que escolhemos da melhor forma naquela circunstância, possibilita se livrar de pensamentos negativos e autodestrutivos como a culpa”, afirma a psicóloga Eliana de Barros Santos.

Quem mais sofre com esses questionamentos são as pessoas controladoras e perfeccionistas, que querem que tudo saia de acordo com o planejado. “No entanto, uma grande dose de acaso é que deve ser considerada como a causa dos eventos de nossas vidas. Temos a impressão que controlamos tudo, mas isso é só ilusão. Por isso os planos não devem ser muito rígidos”, fala a psicóloga Gisela Castanho.

“Por mais que nos esforcemos, e devemos nos esforçar, claro, determinadas coisas desejadas simplesmente não ocorrem. Mas com certeza muitas outras coisas boas acontecem com o passar dos anos e precisamos ter olhos para elas”, completa a especialista.

Também é fundamental parar de culpar os outros sobre os rumos do destino. Projetos engavetados, gravidez não planejada, demissão, necessidade de parar de trabalhar ou estudar, opção por uma profissão pouco rentável ou prazerosa… Óbvio que a opinião de pessoas próximas costuma pesar nas decisões, mas é preciso assumir a responsabilidade pelas próprias escolhas para, assim, aprender a lidar melhor com suas consequências.

“É necessário usar o bom senso com muito discernimento e sinceridade. Quando culpamos alguém por algo dar errado em nossa vida, estamos terceirizando a nossa responsabilidade, uma atitude pouco nobre. Assumir uma culpa não nos diminui em nenhum aspecto, pelo contrário, nos engrandece perante as pessoas e temos a opção de dar a volta por cima e reinventar o futuro”, diz Madalena Feliciano, do Instituto Profissional de Coaching, de São Paulo (SP).

O importante é que nós encaremos essas mudanças de planos não como fracassos, mas como mudanças estratégicas que puderam nos proporcionar situações novas –e, muitas vezes, satisfatórias– com as quais nem contávamos.

O real papel do passado

Tentar entender o que aconteceu lá atrás para modificar o presente e desenhar outro futuro vale a pena, mas somente se esse exercício estiver isento de lamúrias ou culpas. “Buscar o entendimento do passado servirá apenas para não repetir as mesmas ações. Há pessoas que vivem em busca de resposta sobre o seu fracasso no passado e perdem muito tempo com isso, deixando de lado a oportunidade de tomar novos rumos para sua vida”, diz Madalena.

De acordo com Quézia Bombonatto, psicopedagoga, terapeuta familiar e diretora da ABPp (Associação Brasileira de Psicopedagogia), todo processo de compreensão ajuda a realizar uma ação, mas as pessoas não devem se lamentar, e, sim, compreender o que houve e buscar outros sonhos, se necessário.

Muita gente fala que não teve ou não tem sorte na vida, porém sorte é uma questão de saber identificar e aproveitar as oportunidades. Até mesmo uma sensação amarga, como a frustração, pode ser revertida em algo positivo. Fazer uma lista das coisas boas com as quais não tinha sonhado, mas que aconteceram, é uma forma positiva de encarar o passado.

“Tente reconhecer que as escolhas possíveis foram feitas e que o resultado pode ter sido melhor que o esperado”, diz Eliana. Na opinião de Quézia, quem faz essa análise e consegue enxergar os acontecimentos felizes não se coloca na posição de frustrado. “É essencial que a pessoa perceba que é através dos acertos que ela acertará novamente. Quando se olha para eles, é possível reparar no que alcançou e isso possibilita ver o próprio potencial e identificar por onde seguir”, conta a terapeuta.

Para a coach Madalena Feliciano, a dica é separar a frustração entre emocional e lógico. O quesito emocional é algo que nem sempre conseguimos evitar, pois são sentimentos involuntários do nosso organismo. “Mas podemos intervir nas questões lógicas da frustração, que reúnem tudo aquilo que conseguimos mensurar. Exemplos: quanto faltou em dinheiro para comprar um carro, que tipo de atitude tivemos em determinada situação, quantas matérias faltaram para terminar uma faculdade e etc”. Só assim é possível traçar novas estratégias. É melhor olhar o que a vida nos deu, o que conquistamos, e não aquilo que nos escapou.

“Não existe ser humano pleno, completamente satisfeito. Todos nos sentimos incompletos. Isso faz parte da nossa existência. Angústia e desamparo nos acompanham por toda a vida; amor e proteção também. Devemos, então, escolher cultivar esse vínculos para enfrentar o sentimento de incompletude”, afirma Gisela Castanho.

Outro exercício que pode se revelar promissor é identificar quais sonhos ainda podem ser realizados e, a partir daí, traçar as estratégias que irá utilizar. Nunca é tarde para colocar antigos desejos em prática, mas lembre-se: os pés precisam estar fincados na realidade do momento presente.

“Os sonhos do passado podem ser revisitados, mas devem ser avaliados com cautela. Você é outra pessoa hoje, seus sonhos podem ser outros e aquele antigo não lhe serve mais, então descarte-o e siga em frente. Sonhe com o que cabe melhor em sua realidade atual”, explica a psicóloga Eliana.

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