Conheça as estratégias usadas por profissionais de marketing para induzir o consumidor a comprar mais e tente não se deixar levar por elas
Por Mariana Amaro
>>Esta
matéria foi publicada originalmente na edição especial Organize sua
contas da revista Você S/A, em Dezembro de 2014 e pode conter
informações desatualizadas
SÃO
PAULO - Você pode não perceber, mas, quando entra em uma loja, shopping
ou restaurante, tudo ali pode estar armado para fazê-lo gastar mais. A
logomarca vermelha de uma unidade que vende fast-food (cor que estimula o
apetite) e a iluminação indireta nas cabines de prova de roupas íntimas
(para esconder imperfeições) são exemplos de táticas de neuromarketing,
a análise da atividade cerebral dos consumidores. Empresas adotam esse
expediente para entender as relações entre emoções e produtos, e também
para manipular o inconsciente de quem compra e fazer com que abra a
carteira satisfeito.
Alguns
dos estudos incluem análise de ressonância magnética e tecnologia de
rastreamento de movimentos oculares para saber, por exemplo, em qual
posição no cardápio devem estar os pratos mais caros do restaurante.
"Existem áreas ligadas à publicidade e propaganda que trabalham apenas
para pensar qual é a melhor atmosfera para fazer o consumidor gastar
mais", diz Karen Perrotta Lopes, professora de marketing da Universidade
Mackenzie.
Segundo
estimativas, uma pessoa que vive em um grande centro urbano é
bombardeada com mais de 6 000 mensagens publicitárias por dia.
Calcula-se, também, que as empresas gastem por ano mais de 45 bilhões de
reais em neuromarketing no Brasil. "Estamos perdidos", diz Heloisa
Omine, professora da ESPM, especialista em estratégia, branding e visual
marketing. "Só nos resta abrir os olhos e tentar evitar as armadilhas."
Uma
forma de se salvar é fugir das compras em momentos de tristeza ou
raiva, segundo a psicanalista Marcia Tolotti, autora do livro As
Armadilhas do Consumo. "Esses dois sentimentos provocam uma falha em
nosso julgamento. Ficamos ainda mais suscetíveis a cair nesses truques
quando nos sentimos assim", diz Marcia. Confira, a seguir, algumas das
artimanhas mais comuns e tente escapar delas.
Contando as moedas
"Nossa
tendência é arredondar valores para menos", diz Heloisa Omine. Quando o
preço de um produto é 149,99 reais, por exemplo, a impressão que fica é
de que o custo desse objeto está mais próximo de 100 reais do que de
150. "Isso acontece porque nosso cérebro tende a considerar apenas a
centena, e nos lembramos mais do primeiro número que enxergamos à
esquerda", diz ela. O cliente descarta os outros dígitos e acredita que
está gastando menos.
Parcelas que parecem baixas
Uma
tática do varejo muito conhecida é colocar em destaque o valor da
parcela no lugar do preço total do produto. "Normalmente, quando lemos
que algum produto é parcelado em 12 vezes, não interpretamos aquilo como
um pagamento que vai se estender por um ano. Entendemos apenas que
aquela parcela cabe em nosso bolso", diz Karen Perrotta Lopes.
Perfume único
Lojas
desenvolvem aromas que combinam com suas marcas e permitem que o
consumidor se identifique com os produtos pelo olfato. A grife Hugo
Boss, por exemplo, passou dois meses testando perfumes até decidir qual
usar em suas lojas. Hoje transformou o perfume da loja em produto para
venda. Pesquisas mostram que o odor do ambiente pode surtir efeito
positivo ou negativo na percepção da qualidade dos produtos e que o
aroma também influencia o tempo que o consumidor fica na loja e até a
possibilidade de ele voltar.
Omissão das cifras
Segundo
um estudo da Universidade Cornell, os restaurantes que excluem as
cifras do menu vendem mais. Isso acontece porque o consumidor fica mais
alerta quando nota o símbolo. O mesmo mecanismo funciona em etiquetas de
roupas. "Quando perguntamos o preço de uma blusa e a vendedora responde
"dois, sete, nove", em vez de `duzentos e setenta e nove¿, ela está
usando um truque. A primeira forma não soa tão agressiva e um comprador,
por impulso, pode acabar adquirindo o produto sem perceber quanto está
gastando de fato", afirma Heloisa.
Menu apelativo
De
acordo com um estudo da Universidade de Illinois, cardápios com
descrição romanceada dos pratos, com palavras como "textura", "suave" e
"delicado", vendem 27% mais do que menus comuns. "Nomes que remetam à
família, como `picadinho da vovó¿, também têm apelo emocional, mesmo que
o cliente saiba que não será igual ao sabor de sua infância", diz
Karen.
Parece pechincha
Restaurantes
e lojas usam artigos caros para direcionar o cliente para os mais
baratos. "A ideia não é fazer o consumidor comprar o mais caro, mas
induzi-lo a pensar que encontrou uma grande barganha ao levar o mais
barato", diz Heloisa.
Olho na disposição
Segundo
um estudo feito em Seul e publicado no Jornal de Tecnologia e Negócios
Globais, um terço dos clientes é propenso a aceitar a sugestão do
primeiro item para o qual sua atenção foi direcionada ao abrir o menu.
Por isso, da próxima vez que abrir um cardápio, repare se os itens mais
rentáveis estão no canto superior direito. "É lá que os olhos focam
primeiro", diz Heloisa.
Luz na medida
A
iluminação nos provadores também influencia a decisão de compra dos
clientes. Mas varia segundo o tipo de compra e a região. "As cariocas,
por exemplo, quando vão comprar biquínis, querem provadores muito bem
iluminados, para saber exatamente como ficarão na praia. Já as mulheres
que compram lingerie em lojas caras e sofisticadas tendem a comprar mais
quando a iluminação é indireta e a cliente enxerga menos detalhes de
seu corpo", afirma Heloisa.
Foco no produto
As
lojas de informática costumam ter pé-direito baixo para que os
consumidores se concentrem nos detalhes dos produtos. Alguns deles,
geralmente os mais caros, são colocados em áreas nobres para dar a ideia
de que são mais inovadores. "Normalmente, a diferença é que a margem de
lucro dos revendedores é maior", diz Heloisa.
Incentivo ao teste
Consumidores
pagam até 50% a mais por bens se puderem tocá-los ou experimentá-los,
segundo o Instituto de Tecnologia da Califórnia. "É por isso que lojas
de cosméticos tiveram de se redesenhar e colocar os produtos à
disposição dos clientes", diz Heloisa.
Aproveite agora!
Agências
de viagem costumam usar o senso de urgência. Dizem que, se o cliente
não comprar o pacote naquele momento, perderá uma oportunidade única e
pagará mais caro depois.
Espaço no carrinho
Os
carrinhos de supermercado são grandes para que você tenha a impressão
de que está levando poucos produtos, e frutas e verduras ficam expostas
em caixas para dar a impressão de que são frescas. As verduras também
costumam ficar perto da entrada para que o consumidor escolha os
alimentos saudáveis logo e não se importe em encher o resto do carrinho
com comida de pior qualidade. "As promoções de supermercado também são
simples para ficar mais fácil de calcular o desconto", diz Karen.
Que tal um kit?
"A
venda coordenada ou casada é outro truque usado pelos vendedores,
principalmente de cosméticos", diz Heloisa. "Os kits contêm um produto
que é o objeto de desejo do consumidor, como um perfume, e outros que
estão encalhados no estoque. É a chance de fazer o cliente gastar um
pouco mais e ainda experimentar um produto novo", diz Heloisa.
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