Especialista em negociação fala sobre as dificuldades enfrentadas na hora de fechar um acordo
Colaborou Yahisbel Adames
Autora
do livro "Faça Ser Fácil" (Gente, 29,90 reais) e professora de MBA na
Fundação Getúlio Vargas (FGV) de São Paulo, Simone Simon fala sobre um
assunto que ainda é um desafio para muitos: como se tornar um bom
negociador. Confira, a seguir, as dicas da especialista.
O que faz parte de uma boa negociação?
Quando
eu comecei a estudar negociação, era para mim uma coisa como a maior
parte das pessoas veem: “ah, negociação é compra e venda, é pedir um
desconto, negociar um prazo”. Mas a verdade é que a negociação está na
nossa vida o tempo todo. Depois que comecei a me aprofundar no assunto
que percebi como ele não está apenas na transação comercial, não apenas
no momento da negociação, mas de ver a negociação no sentido mais amplo,
de longo prazo. Temos que pensar que um acordo tem que ser bom para os
dois lados, porque mesmo se agora eu ganho e você perde, isso não se
sustenta. Não tem como obter um resultado futuro que eu queira alcançar
se a gente não construir um acordo que atenda aos dois lados agora. As
pessoas acreditam que, pelo fato de que a negociação normalmente é
erroneamente vista como um “ganha/perde”, eu saio lesado se eu perdi.
Deixe de querer ter razão e comece a querer ter sucesso. Negociação não é
difícil, é desafiadora: temos que ter vontade.
Como chegar então ao “ganha/ganha”?
É
o mesmo caso do que acontece no âmbito judiciário: as pessoas são
diferentes e por isso você tem que atendê-las de maneira diferente.
Quando você não sabe o que o outro lado espera, não tem definidos quais
são seus interesses e quais são os interesses do outro, você não percebe
que aquela negociação tem outros intuitos por trás que vão além da
posição e do resultado em si. Temos que ver a negociação como forma de
se relacionar e investir na construção de relacionamento de longo prazo.
E nos relacionamos melhor com quem investimos tempo para desenvolver
confiança e respeito, que são a base do relacionamento. Mas, que fique
claro, quando a gente fala em investir em negociação relacional, não
significa ser menos assertivo, muito pelo contrário: isso significa que
você é focado naquilo que quer atingir.
Quais são as dificuldades de negociar quando há um nível hierárquico envolvido?
Isso
passa pela questão da importância que você tem dentro da empresa. Se
você tem uma importância maior, muito provavelmente seu chefe vai estar
mais disposto a negociar com você. Se você não gera diferencial ou um
resultado do qual a empresa precise contar mais com você, seu poder é
muito menor. Agora, se você tem essa situação equilibrada, de “eu
preciso da empresa e a empresa precisa de mim”, essa questão hierárquica
passa pelo fato de vermos o outro não como oponente ou adversário, mas
sim como um parceiro. Da mesma forma que eu quero crescer e ganhar mais,
o meu chefe também precisa de alguém que vai crescendo junto com ele. O
gestor que não é líder, que não escuta o outro lado e não promove o
crescimento do outro, acaba chegando em um ponto em que não pode evoluir
porque não trouxe as pessoas junto.
Receber uma resposta negativa em uma negociação é necessariamente ruim?
O
“não”, quando bem colocado e coerente, é positivo. Ele que permite
descobrir o que você fez de errado, te dá a oportunidade de melhorar e
buscar soluções criativas para conseguir um resultado superior do que se
você tivesse conseguido um “sim” de cara. Uma resposta negativa não
significa “não e ponto final”, e sim “não agora” por diversos motivos. O
importante do “não” é saber lidar com ele. Temos que ter maturidade
para aceitar uma negativa porque fechar um mal acordo é pior do que não
fechar nenhum. Muitas vezes é melhor dizer não para aquilo que você sabe
que não vai conseguir cumprir.
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