Anualmente,
uma cidade suíça com pouco mais de 11 mil habitantes se torna um dos
lugares mais importantes do mundo. Trata-se de Davos, palco de conversas
entre intelectuais, cientistas, celebridades, bilionários e políticos
durante a reunião do Fórum Econômico Mundial.
Em 19 de janeiro, o fundador do WEF, Klaus Schwab, sentou-se com um dos maiores empresários do mundo: Sergey Brin,
cofundador do Google. Brin andava bastante sumido nos últimos anos,
desde que deixou as rédeas da empresa para Larry Page e passou a se
dedicar a outros projetos da companhia.
Na
conversa de meia hora, a dupla falou sobre as possibilidades da
tecnologia e os efeitos que desenvolvimentos tecnológicos terão na
sociedade humana, especialmente na relação com o trabalho. Brin mesmo se
disse impressionado com a velocidade do avanço no campo de inteligência
artificial.
Não surpreende: pouca gente previu tamanho avanço em tão pouco tempo, do Watson, a inteligência artificial da IBM, aos carros autônomos que já são testados nas ruas americanas.
Sergey Brin fala sobre propósito
A reunião
do Fórum é um ambiente especialmente propício para debater o assunto,
já que a organização é particularmente preocupada com as consequências
sociais da automação e chegou a dedicar centenas de páginas ao assunto
em um relatório de 2016 sobre o futuro do trabalho,resumido pelo Na Prática.
Schwab
então perguntou o que Brin esperava do futuro pós-automação. “Espero
que algumas das tarefas mais mundanas sejam aliviadas pela tecnologia e
que as pessoas encontrem cada vez mais maneiras criativas e
significativas de passar o tempo”, ele respondeu.
“A
palavra ‘emprego’ tem muitas implicações relacionadas ao jeito que
trabalhamos nas últimas gerações: você vai ao escritório, tem papeis,
uma caixa de entrada, uma caixa de saída. Essa mentalidade é estreita”,
continuou. “Se continuarmos pensando na trajetória [de evolução da
automação], vemos que mais e mais pessoas se liberaram nos últimos
séculos para pensar, criar, dedicar-se à estética num campo intelectual
ou artístico. Espero ver essa tendência continuar.”
Pontos-chave para que a automação seja benéfica, para Brin, são investimentos em educação contínua e manter a mente aberta.
“Espero
que o mundo se torne mais tolerante e as pessoas desenvolvam
habilidades diferentes. Uma habilidade que você quer em cinco mil
pessoas hoje também é, realisticamente, automatizável. Então as pessoas
precisam ter a liberdade e a oportunidade financeira para estudar e
encontrar propósito”, falou. “Trabalho não deve ser apenas um jeito de
trocar dinheiro, mas algo em que as pessoas encontrem significado
profundo.”
Lembrando
de seus primeiros dias no Vale do Silício, quando seus professores na
Universidade Stanford incentivaram a criação do Google, ele encoraja
jovens a se arriscarem em busca de seus sonhos e aconselha que
“silenciem aquelas vozes na cabeça” que trazem ideias negativas.
Após
Schwab brincar que existem grandes potências no mundo como EUA, China e
Google, Brin disse que nunca sonhou com um sucesso tão estrondoso e que
espera que a regulamentação corporativa mundial mude nos próximos anos
para incluir preocupações além do lucro.
“Empresas
não podem pensar estreitamente em só maximizar seus lucros sem se
importar com o resto. Os líderes aqui [em Davos] estão preocupados com
mudanças climáticas, desigualdade de renda”, falou. “Talvez haja um
jeito melhor de imbuir esses princípios na formação de uma companhia.
Segundo as leis e regulamentações, uma empresa tecnicamente deve mesmo
buscar o lucro – e isso não é uma ótima posição para se estar.”
- Este artigo foi originalmente publicado pelo Na Prática, portal da Fundação Estudar
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