Com as tarefas de negócios mais complexas do que no passado, bom desempenho depende de boas condições psicológicas,
Por The School of Life
São
Paulo -- Durante a maior parte da História humana e em quase todos os
lugares, teria parecido absurdo empregadores darem feedback pessoal a
seus funcionários. Estava fora de cogitação o chefe se reunir com um
membro da equipe e avaliar seu trabalho, perguntar sobre seus
sentimentos, atitudes, esperanças e ambições. A relação básica era de
comando de um lado e obediência do outro. Ao ensinar, havia uma
separação rígida entre mestre e pupilo; havia aqueles quem davam ordens e
aqueles que faziam o que lhes mandavam. Se fizessem isso lentamente,
sofreriam muitas punições. A ferramenta de gestão mais disseminada era o
chicote.
As
coisas mudaram por um motivo principal – não é porque os chefes estão
mais bonzinhos, mas sim porque as tarefas de negócios são mais
psicologicamente complexas do que no passado. Há uma percepção
totalmente prática e direta de que, para atingir o melhor desempenho, as
pessoas precisam estar em boas condições psicológicas, o que significa
estarem motivadas, animadas, até entusiasmadas e sedentas pelas tarefas
que estão realizando. Este é o único jeito de não desperdiçar muito
dinheiro.
No
passado, quando boa parte do trabalho era puramente rotineira e
dependia, principalmente, do esforço físico, a gestão não se importava
tanto com o que estava acontecendo na mente da força de trabalho. Uma
pessoa infeliz pode datilografar, ou extrair carvão, tão rapidamente
quanto uma feliz; um indivíduo de coração partido pode acrescentar
figuras ou etiquetas com a mesma rapidez de alguém apaixonado. A
psicologia do trabalhador ou funcionário não parecia um fator
significativo no sucesso de uma empreitada.
Atualmente,
no entanto, o comando não é mais suficiente. Gritar é ineficaz como uma
forma de fazer as pessoas executarem bem determinadas tarefas. O
chicote parou de ser útil. O trabalho passou de físico ou mecânico para
se tornar muito mais psicológico. A tarefa pode ser criar um tipo de
embalagem mais intrigante, fazer a equipe de atendimento ouvir com mais
empatia às demandas de clientes difíceis, fazer uma força de vendas
acreditar nos méritos de um novo produto, para que possa vendê-lo de
forma convincente, fazer um gerente de TI ser mais criativo na forma
como interage com outros setores do negócio. Para todos esses tipos de
tarefas, é crucial fazer o funcionário ter a mentalidade certa. Somente
sua habilidade técnica não é suficiente. Seus motivos, atitudes, visão –
sua personalidade – se tornam fatores importantes em como a empresa se
sai. Então, mesmo se eles não exatamente gostam da tarefa, a gerência
sênior precisa levar o bem-estar mental dos funcionários muito a sério.
Passamos da era da gestão física para a da gestão psicológica.
Também
há uma ideia mais inspiradora que pode ser extraída dos esportes de
elite. Os melhores tenistas não apenas passam muito tempo trabalhando
para melhorar seu serviço ou rebater o backhand em diagonal. Perceberam,
há muito tempo, que os principais torneios são vencidos,
consideravelmente, na cabeça deles. Sua capacidade de dominar diversas
habilidades psicológicas está no coração de seu sucesso. Eles precisam
saber como não se deixar abalar pela enorme pressão, como lidar com a
dúvida, como ter confiança para voltar depois de uma sequência de
erros... Os grandes jogadores têm uma vida cheia de feedback psicológico
– e são bons com isso.
A
sessão de feedback no escritório atualmente é a principal forma de
nossa sociedade abordar o que podemos chamar de Obstáculos Psicológicos
ao sucesso de uma empresa. Companhias reconhecem que precisam dar
feedback sobre diversos hábitos da mente – sobre as distorções ou
neuroses de caráter – que atrapalham o bom desempenho e, assim, a
lucratividade.
Em qualquer escritório, os Obstáculos Psicológicos da equipe incluirão – certamente – alguns dos seguintes:
Negação: o ocultamento frenético de más notícias.Independência Perigosa: o solitário que não compartilha informações ou é avesso a usar as habilidades e os insights de outras pessoas.Ignorância Disfarçada: a pessoa que tende a esconder o que não sabe. Dá a impressão de estar totalmente a par de um assunto, só para revelar mais tarde que não sabia ao certo o que estava fazendo.Más habilidades de ensino: alguém que não consegue transmitir com eficácia o que sabe a quem precisa compartilhar isso.Más habilidades de aprendizado: a pessoa que não escuta adequadamente quando algo está sendo explicado.Desespero e pessimismo: a característica de sempre esperar desastre e espalhar tristeza pelo escritório.Excesso de otimismo e ingenuidade: resistência a se aprofundar nas questões para descobrir os problemas reais. “Cuca fresca”. Relutância em aceitar orientação, porque a orientação é experiente e humilhante.Uma tendência de falta de confiança e de ambição; a pessoa não gosta de reconhecer a escala da oportunidade: uma falta de grandeza.Impaciência: interessado principalmente em resolver tudo rápido; não entra no espírito das tarefas.Cinismo: a pessoa que não acredita que a empresa seja honrável; sente que os empregadores não se importam com ela: é distante, ressentida e um tanto taciturna.Estranheza social: falta de confiança e vergonha deixam as pessoas incapazes de se apresentar com confiança e com certo charme aos outros.
Cada
um desses hábitos de mente está conectado a como um projeto pode
fracassar. São obstáculos psicológicos à prosperidade. Para ser mais
lucrativo, você precisa rompê-los. Seu custo coletivo à economia é
simplesmente imenso. As empresas atualmente reconhecem esses sintomas,
mas em geral não conseguem curá-los.
O feedback foi inventado para obter mais dos funcionários e, assim, aumentar a produtividade e a lucratividade da empresa, mas é difícil por diversos motivos.
O feedback foi inventado para obter mais dos funcionários e, assim, aumentar a produtividade e a lucratividade da empresa, mas é difícil por diversos motivos.
//Medo do Empregador
Como
funcionário, é fácil sentir que os empregadores estão sendo maldosos ou
cruéis se apontam para um problema. O funcionário normalmente não está a
par das diversas ansiedades e pressões que acontecem fora dali. O
empregador está elétrico porque os negócios estão enfrentando um ano
muito difícil e os funcionários estão fazendo um mau trabalho em alguns
projetos importantes. Então, a própria pessoa que dá o feedback está sob
pressão. Pode não ser necessariamente o pai ideal e ser infinitamente
compreensivo, generoso e paciente.
//Atitude defensiva
Com
frequência, é extremamente difícil aceitarmos informações negativas
sobre nós mesmos; ouvir que não atendemos às expectativas, que há um
problema com o que estamos fazendo ou que precisamos mudar de alguma
forma. Facilmente oscilamos entre ouvir um item pontual (sobre a entrega
de um relatório ou como lidamos com uma negociação) e um item global
(sobre a vida e a personalidade de alguém). Então, imediatamente nos
sentimos perseguidos, tristes e profundamente magoados pelo que deveria
realmente ser entendido como detalhes específicos. Nossa sensibilidade
não é algo que possa ser superada por uma afirmação abrasiva.
//Ainda não é normal
O
ritual e coisas às quais não damos o devido valor nos ajudam a lidar
com coisas complicadas. Se for totalmente esperado – e uma tradição
antiga – que, a certa altura, as pessoas digam o que acham haver de
errado nas outras, o impacto pessoal do feedback é diminuído. Não parece
estranho ou indecentemente hostil e, francamente, assustador se alguém
(no momento autorizado) diz: OK, há cinco coisas erradas com você... E
você sabe que isso acontece com todos: também está acontecendo na sala
de diretoria. No entanto, no presente, o feedback ainda tem o poder de
parecer perseguidor e arbitrário;
//Não há treinamento suficiente
O
cérebro humano é uma entidade complicada e estranha. Tentar ajustar a
visão ou os hábitos de uma pessoa é como tentar fazer uma cirurgia – só
que as dificuldades de uma cirurgia são conhecidas há muito tempo.
Retirar uma catarata, digamos, é algo reservado para especialistas
altamente treinados, que trabalham em ambientes cuidadosamente
elaborados. No entanto, a empresa média atribui o feedback, que não é
uma tarefa menos delicada e importante – a tarefa de extrair os
pensamentos da cabeça de alguém e moldar sua personalidade – a um
executivo que leu alguns artigos e, no máximo, participou de um
seminário de um dia em um hotel fora da cidade. Espantosamente, ainda
não há muito treinamento. A empresa não leva a tarefa de superar
obstáculos psicológicos a sério – o pessoal sênior não passa muito tempo
falando uns com os outros sobre como melhorar o feedback e sobre a alta
estima que têm por qualquer pessoa boa nisso. Aceitamos amplamente a
ideia de que o trabalho é um local onde se adquire habilidades, mas
ainda estamos começando a entender a noção de que uma das habilidades –
talvez a mais importante – é que o trabalho é, e precisa ser, um agente
da educação emocional, um criador da maturidade. O
trabalho nos testa arduamente: não simplesmente em nossa capacidade
técnica, mas também em nossa capacidade de enfrentar dificuldades
psicológicas com algum grau de confiança, aceitar o fracasso, ser
generoso quanto às necessidades dos outros, conhecer nossos limites e
ser prudentes quanto a nossos pontos fortes. Estes não são simplesmente
ativos no local de trabalho – são os blocos construtores psicológicos de
bons parceiros em um relacionamento, de bons pais e cidadãos maduros. O
trabalho revela nossas falhas psicológicas e, idealmente, nos educa a
superá-las.
//Ceticismo
Empresas
sempre terão muita gente bastante cética quanto a qualquer coisa que
não se trate imediatamente de vender mais produtos ou cortar custos. Há
uma ideia do que é ser sério nos negócios que milita contra uma
abordagem psicológica e que, no nome do rigor e da maturidade
financeira, recusa-se a reconhecer o treinamento psicológico como
legítimo. Lidar
bem com os obstáculos psicológicos exige ir além de reconhecer seus
sintomas. Requer um mapa da natureza real dos problemas e de suas
causas. A solução não se tratará de apresentar um insight
verdadeiramente grande em uma ocasião grandiosa (a revisão anual) e
esperar transformação, porque os problemas têm a personalidade de
hábitos, e mudar hábitos é um tipo diferente de empreitada. A atmosfera
corporativa precisará ser calma, destemida e muito paciente.
O DIVIDENDO PSICOLÓGICO
Cada
empresa é menos bem-sucedida do que poderia e deveria ser por causa dos
estados mentais muito abaixo do ideal de seus funcionários e líderes.
Abordar com sucesso os obstáculos psicológicos libera um dividendo
psicológico. Dependendo da área de negócios, o dividendo psicológico, em
termos puramente financeiros, é um aumento na lucratividade de 25 a 30
por cento.
O
feedback pode parecer, inicialmente, uma pequena questão de rotina no
escritório, mas é um lugar onde podemos ver a economia do futuro começar
a emergir. Ele começa a abordar a questão do tipo de educação de que
precisamos, coletivamente, para atingir uma ótima economia. Ainda
estamos nos estágios iniciais do treinamento psicológico no local de
trabalho. As empresas aceitaram há muito tempo a necessidade de educação
especial – e sabem que não conseguem fazer isso sozinhas em paralelo
com suas atividades normais (não ocorreria a elas treinar as pessoas
para escrever; aceitam que precisa haver escolas para isso). Na utopia,
todas as Escolas de Negócios dariam uma educação emocional bastante
detalhada e astuta. No momento, matemática e ciências tendem a ser as
matérias mais valorizadas. Isso deriva de uma análise do que faltava
mais nas empresas no passado. Hoje, podemos comprar máquinas que façam
cálculos. O que nos falta é sofisticação psicológica e saúde.
>> Este artigo faz parte do capítulo 2 do livro "The Book of Life"
Saiba mais no site da The School of Life
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