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O ciclo do endividamento

Antes de pensar em recorrer a um empréstimo para cobrir buracos no orçamento ou sustentar um estilo de vida, calcule o impacto que isso terá na sua vida

Por Reinaldo Domingos*
A ciranda do endividamento | <i>Crédito: Pixabay
A ciranda do endividamento | Crédito: Pixabay
Se 2015 foi um ano de provações, com a instabilidade econômica e política do Brasil influenciando diretamente as finanças da população, para 2016 as perspectivas não são muito melhores, pois alguns pontos que prejudicam os consumidores devem permanecer críticos, como os juros altos, o dólar caro e a inflação crescente. Em função disso, é imprescindível traçar uma estratégia financeira para esse momento, evitando integrar o quadro de endividados e inadimplentes. 

Um grande problema é que, nos últimos anos, o padrão de vida das pessoas aumentou, e muitas passaram a gastar mais do que ganham para sustenta-lo. Em nome de um estilo de vida que envolve muito consumo, as linhas de crédito passaram a ser um caminho cada vez mais percorrido. Mesmo com a crise que enfrentamos, uma saída comum para muitos brasileiros é tomar empréstimos, fazer parcelamentos, utilizar cheque especial ou pagar o mínimo do cartão de crédito. Isso só agrava a sua situação, pois ficará exposto aos juros bancários - atualmente exorbitantes. 

Para não repetir esse erro em 2016, é fundamental que os consumidores comecem quanto antes uma análise de suas finanças, avaliando quanto ganham, quanto gastam e o quanto sobra ou falta no orçamento a cada mês. A partir dessas informações, você passará a ter a percepção dos gastos que realmente importam, cortando muito do que é supérfluo. E alerto que uma grande parcela de nossos gastos é desnecessária e passível de cortes. Passe a observar as pequenas quantias gastas a cada dia, some-as e, na maioria das vezes, terá uma grande surpresa. Minha experiência como educador financeiro mostra que, numa grande cidade, as pessoas desembolsam facilmente mais de 100 reais por dia só com gastos desnecessários, que não são contabilizados no planejamento. Ao fim do mês isso custa 3 000 reais, dinheiro que poderia render um ótimo investimento, mas que também pode deixar um rombo no orçamento mensal.

Antes de pensar em recorrer a um empréstimo para cobrir buracos como este, é importante que os consumidores saibam calcular o impacto que eles causam (cartão de crédito, cheque especial, financiamento da casa própria, do carro e de eletrodomésticos, entre outros). Isso é essencial porque, em boa parte dos casos, eles levam a um ciclo de endividamento cuja saída é muito complexa.

Em geral, esse ciclo segue o seguinte roteiro: se a prestação da casa ou do carro não está cabendo no orçamento, a pessoa passa a pagar todas as demais despesas no cartão de crédito, imaginando que assim sobrarão recursos para cobrir suas principais dívidas. Dentro de poucos meses, no entanto, essa pessoa já não conseguirá quitar a fatura do cartão e passará a pagar a parcela mínima, até que entre algum recurso extra. Mas isso não acontece e a saída é recorrer também ao cheque especial. Chega o começo do outro mês e a história se repete. Quando se dá conta, a pessoa está endividada de todos os lados, correndo o risco de ficar inadimplente e sem linhas de crédito. Há quem provoque a própria demissão para usar os recursos dos direitos trabalhistas para solucionar o problema. Quando percebem que o dinheiro não é suficiente buscam um novo empréstimo. E assim vão até chegar ao fundo do poço.

Evite ingressar nessa cirando tendo em mente que o ciclo do endividamento tem como causas o analfabetismo financeiro; consumismo; o crédito fácil e o uso incorreto de ferramentas como cheque especial, cartão de crédito, crediário, crédito consignado, empréstimos, adiantamentos e antecipação do IR. Já suas consequências incluem desmotivação, atrasos e faltas no trabalho, produtividade reduzida, baixa autoestima, crises conjugais e problemas de saúde. Por isso, melhor do que remediar é prevenir as dívidas. 

Fique no azul
As principais atitudes para evitar o risco de endividamento 
- Com a inflação em alta, seu poder de compra se reduz. Por isso, comece o quanto antes uma análise de suas finanças, para perceber onde estão os gastos supérfluos e que podem ser cortados. 

- Passe a monitorar os pequenos gastos diários. Eles podem estar por trás daqueles rombos aparentemente inexplicáveis no orçamento mensal, comprometendo sua capacidade de pagar dívidas importantes, como o financiamento da casa e do carro. 

- Pense duas vezes antes de fazer gastos em moeda estrangeira ou de adquirir itens importados, que ao menos no médio prazo, estarão bem mais caros por causa do dólar alto. 

- Reveja seu padrão de vida e não caia na tentação de contrair empréstimos para sustentá-lo. Com a escalada dos juros, o risco de se endividar por causa dessas operações de crédito é muito grande. 

*Reinaldo Domingos é terapeuta financeiro, presidente da Associação Brasileira de Educadores Financeiros, do grupo DSOP e autor dos livros Terapia Financeira e Livre-se das Dívidas.

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