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Romantizar a carreira pode nos fazer mais felizes

Para o alemão Tim Leberecht, ter uma postura emocional nos negócios nos ajuda a ser mais bem-sucedidos

Por Redação Você S/A
Tim Leberecht, autor do livro “Romantize seus negócios” | <i>Crédito: Divulgação
Tim Leberecht, autor do livro “Romantize seus negócios” | Crédito: Divulgação
Tim Leberecht é um romântico. Alemão radicado nos Estados Unidos, ele acredita que encarar a carreira com romantismo aumenta nossa felicidade e criatividade. Atuando há mais de 20 anos com marketing, Tim transitou no mundo corporativo como diretor da Frog, empresa de design e inovação; na Aricent Group, especializada em engenharia; e na NBBJ, companhia de arquitetura corporativa. 

Em setembro de 2015, fundou a Romantic Business Society, um coletivo global que reúne especialistas em marketing, designers, pesquisadores e artistas para ajudar as empresas a fortalecer suas marcas. Em seu livro de estreia, Romantize Seus Negócios (Rocco, 34,90 reais), ele mostra como aumentar a paixão pelo trabalho. Para isso, usa sua experiência pessoal e histórias de profissionais e empreendedores que, como ele, acreditam no poder das emoções. A seguir, leia um trecho inédito da obra que chega às livrarias em fevereiro.

Seja um estranho

Trecho retirado do livro “Romantize seus negócios”, de Tim Liberecht:

Aos 14 anos eu era tão tímido que muitas vezes evitava ir aos lugares mais comuns. Sempre que ousava sair – por exemplo, para ir ao supermercado –, procurava carne processada e queijo, em vez de ir à mercearia, para não ter que falar com ninguém. Eu detestava ser tímido e considerava a timidez uma limitação debilitante. Embora estivesse genuinamente interessado em outras pessoas, com frequência era apanhado por minha inibição.

De volta à minha atual vida profissional: oito anos atrás, pouco depois de começar a trabalhar na Frog Design, fui convidado por nossa agência de relações públicas para o jantar de gala do Financial Follies em Nova York. Era o evento anual para ver e ser visto das indústrias financeira e de mídia. Com mais de 30 anos, a mesma timidez de adolescente ainda persistia, e cheguei ao evento sentindo-me nervoso e ansioso. Embora me imaginasse acabando sozinho num canto, eu sabia que precisava derrotar meu medo da situação. Em vez de ver a noitada como uma função crítica de negócios (a própria palavra “função” provocava arrepios na minha espinha), eu romanticamente considerava aquele um encontro mágico com estranhos fascinantes. Coloquei a máscara de extrovertido e observei meu desempenho. No final da festa, eu estava surpreso com a rapidez da passagem do tempo. Aquele ato de transformação havia desmantelado parte da minha timidez. Conheci pessoas novas e até fiz alguns amigos.

Hoje compareço a uma dúzia de conferências por ano. Lidero encontros, reuniões de funcionários e organizo jantares e festas. Com o passar do tempo, minha abordagem romântica a eventos sociais tornou-se uma segunda natureza. Ela me permitiu aceitar minha timidez como uma resposta legítima ao mundo, e isso, por sua vez, tornou-me menos tímido.
 
Aprendi a contar minha história em sessenta segundos, uma habilidade que desenvolvi quando morava em Los Angeles, onde todos aperfeiçoam a arte da conversa no elevador. Também aprendi a contá-la quando vivia em Berlim, onde a história de todos é longa. Tendo florescido tarde, percebi a certa altura que fazer uma pergunta ao acaso num evento de networking costuma ser suficiente para iniciar uma conexão e que as pessoas, em sua maioria, demonstram uma expressão de interesse genuíno. Na verdade, todos nós estamos à espera de um tapinha no ombro.

Dessa maneira, passei de bicho de canto de sala para borboleta social. Fazer novas conexões e conversar com estranhos tornaram-se meu modo de ser (...) Algumas vezes, sinto falta da integridade e da intimidade – o isolamento esplêndido – que eu sentia quando era tímido. Em certo sentido, minha timidez era uma manifestação de respeito pelo mundo à minha volta. Cada sucesso social era uma surpresa e cada novo amigo era uma maravilha. Na vida adulta, é muito fácil esses encontros se tornarem rotina. Para os Românticos nos Negócios, isso não acontece.

Os negócios representam uma multidão de plataformas para explorar diferentes aspectos do ego, e os Românticos nos Negócios gostam das oportunidades de moldar e alterar personas: de tímido para extrovertido; de sussurros para gritos; de amargo para doce; ou de cauteloso para franco. Os outros podem nos acusar de sermos transformadores – pois que seja! Como disse Nietzsche: “Você sempre é uma pessoa diferente”. Essa sensação de diferença, em nós mesmos e nos outros, nos leva a conjeturar constantemente, sentados na ponta de nossas cadeiras. Os Românticos nos Negócios buscam essa estranheza em todas as formas de socialização. Nosso primeiro contato com um estranho, que nos abre e faz com que nele confiemos, é um momento milagroso. É assim que tudo começa.

É claro que essa visão difere em muito da perspectiva de um networker típico, um cruzamento de predador em sua ronda e um artista de rua colocando-se diante do público para avaliação e, finalmente, validação. Vi certa vez numa recepção um sujeito com seu cartão de visitas na mão abordar todas as pessoas que estavam sozinhas na sala. Em vez de puxar conversa, ele dava seu cartão, pedia um em troca e se despedia. Eu não sabia se devia condená-lo por sua aspereza ou admirá-lo pela eficiência. Qual a vantagem de ir direto ao assunto se não há uma trama?

Do ponto de vista transacional, os eventos que visam a formação de redes sociais são atraentes exatamente porque são muito eficientes. Num bom evento você pode conhecer mais “alvos relevantes” em duas horas do que poderia através de um ano de “esforços direcionados”. Os eventos desse tipo também servem para cultivar influência, o que requer a preponderância de VIPs e dos assim chamados líderes de opinião, os mais famosos que for possível. Além disso, organizar um evento social oferece uma boa desculpa para enviar e-mails a centenas de pessoas desconhecidas. Você pode impressionar, mesmo que nenhuma delas apareça.
Mas essas são as razões racionais para se continuar a fazer networking. Todos nós sabemos, pela lógica, por que esperam que circulemos por uma sala tentando ser ouvidos por cima do barulho de dezenas de outros convidados competindo por atenção. Os Românticos nos Negócios, por seu lado, estão em busca de uma experiência cujas compensações imediatas são menos óbvias.
Num jantar para networking a que compareci, os lugares à mesa eram mudados constantemente, pondo todo mundo em contato com todo mundo durante a refeição. No fim da noite, eu estava sentado ao lado de uma mulher que se voltou para mim e disse: “Você é a única pessoa aqui com quem ainda não falei!” Sorrimos um para o outro e a seguir ambos mudamos de lugar, sentindo um elo mudo criado por aquilo que não foi dito (...). 

Nada é mais frustrante para um romântico do que a dissimulação. Somos cautelosos em relação a eventos de networking disfarçados de outra coisa, como “jantar com amigos” ou “encontro divertido e informal”. É claro que negócios constituem a razão para estarmos lá, mas nenhum de nós de fato comparece estritamente para negócios. Ninguém quer ser parte de um rebanho. Comparecemos porque queremos alguma emoção ou um vislumbre de esperança; estamos em busca de trocas que podem oferecer a possibilidade de uma conversa significativa, ou até mesmo transformadora. Comparecemos porque não podemos deixar de perguntar: E se?

Veja o caso de Harald Neidhardt, que voa com frequência entre Hamburgo e San Francisco. Ele é o fundador da MLove, uma rede de conferências que tem seu principal evento num velho castelo perto de Berlim [a edição de 2015 ocorreu em HafenCity um antigo complexo portuário em Hamburgo, na Alemanha, transformado em bairro]. Cada encontro reúne um pequeno grupo de participantes dos mundos empresarial, acadêmico e artístico – do gerente de TI da Lufthansa ao empreendedor do Vale do Silício e o hacker romeno – para três dias de conversas centralizadas em tecnologia e sociedade. O local é remoto para evitar distrações e encoraja os participantes a se comprometerem totalmente com a experiência. Muitos participantes de eventos MLove, e até mesmo palestrantes, dormem em acomodações provisórias no castelo, entre estranhos e longe do conforto e das regalias de outros encontros exclusivos. (...)

“Eu queria organizar um encontro de negócios onde as pessoas se sentissem menos sós”, contou ele. No MLove há instalações artísticas, performances musicais, jogos sociais e jantares, e, é claro, também conversas. O foco está na criação de momentos de inspiração e revelação. A atividade de networking está fora do contexto e o evento não tem a atmosfera de uma conferência típica. “Se os participantes estabelecerem uma ligação, certamente acabarão tendo uma ideia de negócios que poderá ajudá-los a manter a conexão”, disse Neidhardt rindo. “Minha noção de sucesso é fazer os olhos das pessoas brilharem”.


Esta matéria foi publicada originalmente na edição 211 da revista Você S/A com o título "Romantize sua carreira"

Você S/A | Edição 211 | Fevereiro de 2016

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