Atenção ao paradoxo: tudo, mas tudo mesmo, é pessoal. E nada é.
Por Adriana Gattermayr*
Caros executivos,
Qualquer
um na sua posição tem pavor da expressão “é pessoal”. E com razão. No
ambiente profissional, espera-se que o colaborador entenda que as
decisões tomadas para o crescimento e desenvolvimento da empresa sejam
meramente ferramentas e não devem gerar descontrole emocional do ego.
Essa regra de etiqueta é bem conhecida de quem atua no ambiente
corporativo. Mas alguém a segue cem por cento? Acredito que não, não é
mesmo? Atenção ao paradoxo: tudo, mas tudo mesmo, é pessoal. E nada é.
Queridos colaboradores,
Tudo
é pessoal porque a empresa não é um polvo desgovernado com tentáculos
movido à vontade própria. A empresa não existe. A empresa são vocês.
Vocês e seus líderes criam, juntos, um produto ou serviço, e não a “área
de Novos Negócios”. No dia a dia, porém, nos parece que esse gigante
zumbi é apenas uma máquina que trabalha para alimentar a si própria
escravizando pessoas. Quantos colegas você já ouviu dizerem “vou sair do
mundo corporativo, não aguento mais”?
Líderes e liderados,
Essa
entidade, a empresa, é uma invenção nossa, que só serve para tirar a
responsabilidade pelos nossos atos. Mas são pessoas que tomam decisões
que impactam em pessoas. “Não queria fazer isso, mas a empresa precisa
crescer”. Sinto muito, é pessoal sim.
Agora,
dizer que uma decisão é pessoal não significa dizer que ela gira em
volta do seu umbigo, caro profissional. Se a empresa resolveu extinguir
um departamento todo para cortar custos e demitiu você, é pessoal para
você, sim, só que, para a empresa, é uma decisão estratégica e
necessária. O que isto significa? Que a alta hierarquia desse grupo de
pessoas decidiu eliminar algumas pessoas, pelo bem das demais.
Quando
você, líder, diz que “não é pessoal”, espera-se que a politicagem, as
traições, as invejas e outras questões mais baixas da natureza humana
sejam deixadas de lado. Contudo, para ser sincera, nenhum ambiente
corporativo está totalmente livre delas. Nesses casos, o discurso “não é
pessoal” acaba sendo o da pior espécie.
Nada
deve ser pessoal, e remar nesse sentido pode parecer difícil, pois
todos temos nossas afinidades. Por isso, o desafio é tornar as coisas
pessoais, priorizando sempre o coletivo. Infelizmente, aqui no Brasil, é
muito difícil as pessoas enxergarem o todo, pois somos ensinados desde
pequenos a pensar em nós mesmos ao invés do contexto.
O
que você, colaborador, deve fazer, é se ofender menos. Nem tudo no
mundo foi feito para irritá-lo ou chateá-lo. Cresça e aceite que a vida
às vezes tem situações difíceis e aprenda a lidar bem com elas. Esse é o
profissional que todo o grupo de pessoas quer.
Entendendo
essas verdades tão óbvias, não há mais espaço para um departamento de
RH burocrático, não há mais espaço para uma área de gente. A área de
gente é a empresa toda. A área que cuida de gente tem que ser a empresa
toda. Há que se criar uma área de educação, que é hoje o coitadinho do
treinamento e desenvolvimento que vive espremido entre um RH burocrático
e uma presidência que corta “custos”.
Até
que as faculdades e escolas de negócios incluam gestão de pessoas em
todos os cursos, caberá aos líderes começar do zero e ensinar a seu
grupo de pessoas como tratar uns aos outros para que as habilidades
comportamentais facilitem a decolagem de uma empresa. Caberá também aos
liderados investir no desenvolvimento de sua inteligência emocional para
que se torne relevante o suficiente para entender e colaborar com o
macro ambiente.
Aos
líderes, deixo a dica de que uma empresa verdadeiramente pessoal é
aquela que entende que trabalha com pessoas, que pessoas têm
necessidades, têm outros compromissos, têm família, têm vida e ainda
assim, olha só, querem trabalhar com vocês. É só vocês tornarem isso
possível.
Não
vou citar os tão falados escritórios coloridos e cheios de amenidades
do Google, Facebook e afins. Eles servem ao seu público com muita
eficiência (frequentemente aparecem na lista de empresas mais
admiradas). Acontece que nem todo mundo tem esse perfil. Há
profissionais que querem trabalhar de terno, que querem dizer que não
têm tempo para nada.
São pessoas. Não há unanimidade.
Esqueça
a pesquisa de clima. Levante de sua cadeira, converse com as pessoas,
abra canais alternativos, se aproxime de seus braços e mantenha a cabeça
de todos olhando para meta. Se eles se distraem com estresse e
politicagem, volte o foco para o coletivo incessantemente. A era
escravidão corporativa à empresa cavaleiro-sem-cabeça acabou.
*Este artigo é de autoria de Adriana Gattermayr, CEO da Gattermayr Consulting.
Comentários
Postar um comentário