O
nome indica: um teste de raciocínio lógico avalia a habilidade do
indivíduo de raciocinar de maneira lógica, ou seja, que faz sentido. E
fazendo isso através do uso de argumentos, premissas, declarações e
afirmações que definem se algo é certo ou errado naquele contexto…
“Não
se trata de fazer conta de cabeça, mas de passar por um processo
lógico. Como chegar na informação? Que caminho tomar?”, resume Gustavo
Nascimento, sócio-diretor da Br Talent, empresa especializada em recrutamento.
É uma forma de medir a capacidade analítica do candidato – ou seja, sua
capacidade de analisar problemas e propor estratégias de solução – e o
tipo de raciocínio que ele adota nesse processo.
Dessa
forma, esses testes acabam aferindo, de uma forma ou de outra, um traço
profissional que todas as empresas desejam: a capacidade de resolver
problemas.
Gustavo
explica que exames do tipo passaram a ser mais frequentes na última
década e aparecem principalmente nas fases iniciais de processos com
volume alto de candidatos, como concursos públicos, programas de estágio e de trainee.
“Foi
uma exigência do mercado, que queria formas de absorver seu público
alvo nos processos seletivos”, explica. “Em 2005, tínhamos programa de
estágio com três mil inscritos, mas com a maior inserção do brasileiro
no ensino superior esse número aumentou e hoje bate na casa das 20 mil
pessoas.”
Exemplo de questão de lógica comum nos processos de trainee
A própria Fundação Estudar utiliza testes de lógica tanto na seleção da própria equipe quanto no seu programa de bolsas de estudo, em que a concorrência chega 60 mil candidatos para cerca de vinte vagas.
Esses
testes também são favoritos de empresas do ramo financeiro, que
costumam ser exigentes quanto aos resultados, já que os desafios diários
do mundo dos investimentos demandam alta capacidade analítica. Ainda
assim, tais exames são hoje empregados pelos mais diversos setores, das
grandes corporações a organizações não governamentais.
O
nível de dificuldade da prova depende das características da vaga. “Um
teste para um cargo de gerência será diferente de um teste para
iniciantes”, esclarece Gustavo. A diferença pode aparecer até dentro de
um mesmo processo seletivo: candidatos a uma vaga de engenharia podem
responder perguntas mais difíceis que os outros, por exemplo.
Os processos
mais concorridos costumam ter testes de lógica com níveis de
dificuldade altos, e são raros os candidatos que gabaritam a prova,
então não fique nervoso se acha que cometeu erros ou não sabia a prova
inteira. Da mesma fora, as questões mudam de tempos em tempos, tanto
para evitar que candidatos fiquem viciados na respostas como para
prevenir que surjam colas e gabaritos.
E
o que uma nota ruim sinaliza? “O teste é muito situacional, então se
você não estiver num bom dia e apresentar um desvio grande, o recrutador
normalmente vai reaplicá-lo”, tranquiliza Gustavo. Importante mesmo é
não ser totalmente surpreendido.
Como se preparar
Antes
de encarar as perguntas, é bom relembrar estruturas de raciocínio
lógico, como deduções (conclusão através da análise de fatos),
inferências (conclusão a partir de premissas), equivalências, negações e
analogias, entre outras.
Vale
lembrar que alguns tipos de questões costumam ser bastante recorrentes,
como as que testam o raciocínio dedutivo. Esse tipo específico de
raciocínio (que faz parte do raciocínio lógico) nada mais é do que a
capacidade de partir do geral para chegar ao particular, e fazer isso
por meio de premissas. Para isso, precisamos avaliar o quanto uma regra
geral se aplica a situações específicas. Um exemplo simples: Todo metal é
dilatado pelo calor. Prata é um metal. Prata é dilatada pelo calor?
Também
são comuns as questões de raciocínio indutivo, que seguem o caminho
inverso: partem de uma proposição específica para generalizá-la e
aplicá-la em um cenário geral. A gente te explica! Indução é quando
supomos que, quando certo fato se repete várias vezes, ele pode ser
considerado regra geral e se repetirá de novo. É o caso da máxima de “só
existem cisnes brancos”; quem disse isso imaginou que todos os cisnes
fossem brancos, pois só havia observado cisnes dessa cor. Na vida real
pode não ser bem assim que as coisas funcionam, mas para os testes de
lógica vale o raciocínio da indução. Veja o exemplo abaixo:
Exemplo de exercício de raciocínio indutivo, em que só é possível adivinhar qual será o preenchimento do quadrado mais alto se pressupormos que será seguido o mesmo padrão observado no preenchimento do restante da figura
Do
lado matemático, é importante revisar conceitos básicos de geometria e
intersecções de conjuntos. Também vale rever equações de primeiro grau,
probabilidade, análise combinatória, progressões aritmética e
geométrica, frações e porcentagens e regra de três.
Não
se assuste com os nomes: são coisas que você provavelmente já sabe e
esqueceu. Outra boa notícia é que não faltam fontes de estudo, como as
aulas da Khan Academy e do PCI Concursos, além dos simulados gratuitos e passo a passo oferecidos por sites como QConcursos e Professor Cardy.
É
vital acompanhar atentamente a resolução dos problemas, mesmo se você
tiver acertado. É essa prática que lhe permitirá entender a estrutura
mental por trás da conclusão – ou seja, entender o próprio raciocínio
lógico – e se aprimorar cada vez mais.
O
ambiente da prova também é ponto de destaque. Como um teste de
raciocínio lógico exige foco e dura entre uma hora e uma hora e meia, é
fundamental estar calmo, num espaço confortável e evitar interrupções.
“O nível de concentração é um dos principais fatores que determinam o
sucesso do candidato”, diz Gustavo.
Uma
vez imerso, sempre leia tudo com atenção. Compreenda cada parte do
enunciado e lembre-se que só porque a sentença é verdadeira no mundo
(como “o céu é azul”) não significa necessariamente que seja a certa. Em
testes de lógica, tudo depende do contexto da questão – talvez naquele
momento o céu seja vermelho mesmo.
Outra
dica é pesquisar a empresa em questão. Algumas aproveitam para
personalizar as provas e incluir nas questões seus próprios produtos,
métodos de distribuição e operações logísticas, entre outros temas, na
tentativa de criar familiaridade entre candidato e companhia.
De
qualquer maneira, esse conhecimento generalizado é útil para dar um
passo à frente da concorrência. “Encontrar um jovem que conheça um pouco
da empresa antes de entrar nela é uma das grandes dificuldades que
temos hoje”, finaliza Gustavo.
Exemplos de testes de lógica
Abaixo estão três das muitas questões de raciocínio lógico disponíveis no site QConcursos. Caso pareçam difíceis, lembre-se: é possível (e recomendável) treinar seu raciocínio lógico.
Pergunta 1: Sobre equivalências“Se João estuda, então Marcela chora.” A negação dessa proposição é logicamente equivalente a:
a) Se João não estuda então Marcela não chora.b) João não estuda ou Marcela não chora.c) João não estuda e Marcela não chora.d) João estuda e Marcela não chora.e) João estuda ou Marcela não chora.
a) Se João não estuda então Marcela não chora.b) João não estuda ou Marcela não chora.c) João não estuda e Marcela não chora.d) João estuda e Marcela não chora.e) João estuda ou Marcela não chora.
Resposta: D. Uma negação mantém a primeira sentença (“Se João estuda”) e nega a segunda (“então Marcela chora”).
Pergunta 2: Sobre sequências lógicasOs números 2, 3, 4, 5, 8, 7, 16, 9,…, apresentam uma sequência lógica. Nessas condições, o décimo primeiro termo da sequência é:
a) 64b) 11c) 13d) 128
Resposta: A. Os números pares dobram (2, 4, 8, 16) e os ímpares somam 2 (3, 5, 7, 9).
Pergunta 3: Sobre probabilidadeUma
formiga, um rato e uma cobra atravessam um deserto. Sabe-se que a
probabilidade da cobra, do rato e da formiga conseguirem percorrer nesse
deserto mais que 10 km são, respectivamente, 4/5, 3/5 e 3/4.
Considerando os eventos independentes, a probabilidade de somente o rato
conseguir percorrer mais que 10 km é:
a) 3%b) 5%c) 7%d) 9%e) 12%
Resposta: A.
As chances do rato conseguir atravessar são 3/5 e as chances da cobra e
da formiga não conseguirem são, respectivamente, 1/5 e 1/4. Basta
multiplicar os três valores, que também podem ser expressados como 0.60
(ou 60%), 0.20 (20%) e 0.25 (25%). O resultado é 0.03, ou 3%.
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